Archive for 2013

Carta à ruptura

segunda-feira, setembro 30, 2013 § 0

Não viemos sozinhos ao mundo. Temos a breve consciência disso, embora frequentemente esquecida, de que fazemos parte de algo. Não somos apenas nós; não vivemos de nós mesmos; não somos auto-sustentáveis.
Enfrentamos muitas coisas em nosso dia-a-dia, conhecemos bem a vida que temos. A maneiras distintas, todos temos que enfrentar dificuldades para alcançar nossos objetivos, sejam eles diários, mensais ou vitalícios. Porém, sabemos não ser possível conquistar muito através apenas de nossa própria força. Buscamos energia em amigos, família, parceiros; certas vezes até um desconhecido nos diz, sem perceber, algo que nos reanima.
Não somos Atlas. Não temos o poder de sustentar tudo apenas em nossos próprios ombros e, principalmente, não há necessidade. Dividimos todos do mesmo chão, do mesmo concreto, das mesmas árvores e das mesmas cores. Respiramos o mesmo ar, vemos todos o mesmo sol. Estamos juntos. Não é natural estarmos todos aqui, porém virados a direções opostas.O "adeus" deveria estar reservado à vontade contrária. Só deveríamos nos despedir na total ausência de alternativas. O adeus não é uma solução. O adeus é triste e solitário, nos impedindo de viver como nascemos para viver: coletivamente.À despedida, quebramos um elo. À despedida, nos diminuímos e diminuímos conjunto as chances de melhorar o que não está bom. Não há razão em nos distanciarmos por que algo não vai bem. Continuará a não ir bem, porém sozinhos.Poucos sabem ou sentiram a real solidão, o realmente não ter uma única pessoa ao seu lado. Poucos sentiram essa sensação, porém muitos buscam cegamente encontrá-la e senti-la.Não somos frutas. Não apodrecemos, não somos passíveis de descarte. Temos, entretanto, uma imensa habilidade que convenientemente ignoramos: a comunicação.Um tato não necessita de muito. Um jeitinho, umas palavras, uns gestos. Tato não reserva-se a ninguém. Todos temos, todos sabemos quando queremos. Basta muito pouco para alcançar o próximo. Basta pouco para manter o elo. Quanto custa regar? Uma manutenção às vezes, atualizar uma peça ou outra. Não podemos pegar o próximo e mandar para reembolso.Podemos não perceber, mas precisamos uns dos outros. Não é utopia, fantasia ou romantismo. Precisamos uns dos outros direta ou indiretamente, material ou sentimentalmente. Quando fechamos uma porta, nem sempre abre-se outra. Poderemos estar, no fim, presos cada um em uma sala, sem contato, sem visão, sem audição e sem internet. Sentimentos não transmitem-se via wi-fi.Não sou pregador de nada, não busco conversões. Deixo aqui apenas uma visão buscando uma certa aproximação.Já que estamos todos aqui, poderíamos ao menos nos unirmos.

No braço, um abraço

domingo, setembro 29, 2013 § 0

Contato que trago é errado.
Se mostro um afago é descaso.
Um amparo ao lado, "que raso".
Até um beijo, um abraço, "que vago".

Te olho, "que amargo"
Te pinto e descarto
Decido meu amor no braço.

O que posso é tentar
Não apenas sonhar
Te amar é meu puro desvendar.

Este caminho é corrido
Até já conhecido
Me volto e me animo
Mas não passo de seu eterno amigo.

O que posso é viver
Paralelo a você
Até que possa enfim
Te merecer.

O que se ganha

quarta-feira, setembro 25, 2013 § 0

Sempre que sobra um papel e uma caneta, sobra um sentimento.

Uma geometria humanizada

§ 0

Não se sabe se o caminho bifurcou-se, ou se as linhas paralelas se unificaram. Destinos distintos, amarrados e unidos, mostram-nos destemidos e determinados. É este descompasso dos desventurados pensativos, que racionalizam sobre o corpo que ama a alma, trazendo aquela calma sem o menor esforço.
É sobre o final que discute-se este trajeto, e se mostra-se ou não correto, descobriremos ao mais breve sinal.

Um tempo agora

§ 0

A resposta retorna.
A pergunta se fez, o ato construiu e a resposta surgiu.
Não mais permaneço num receio do "sou". Sei que estou, diferente de como estive e distante ainda do que estarei. Viverei, como vivo, nutrido e amado, devolvendo este afago a quem sinto amigo.
À brevidade, um abraço.
O ato à continuidade.

Um tempo outro

terça-feira, setembro 24, 2013 § 0

Não consigo me livrar dos pensamentos. Eles correm e ultrapassam as barreiras do meu corpo me tirando das leis da gravidade quando soltam-me a flutuar nos céus dos meus desejos. E me perco de mim, deixo-me livre para transitar sem destino pelo caminho do desencontro, e fico aflito ao me ver sozinho, quando sinto meu estômago gelar, me corrompendo os calafrios que também me enfraquecem, me largando ali, sem trajeto, sem sentimento, me perdendo por um momento do alvo que desenhei e esperei alcançar. Resta apenas meu mal-estar.
Não consigo me ater ao chão, voando na contra-mão, e nada parece ajudar a ânsia que me constrói e tão breve me destrói. Poucas coisas me reconstroem, mas até mesmo parece tarde, as lágrimas não retornarão a mim. Já estou seco, não mais falo, só me comunico pelo estar. Sem mais poder me movimentar, viverei aqui. Perco tudo, menos este sentimento que me envolve em sua tristeza, me sugando, cada parte de mim é um passado, até que de mim não exista nada mais tangível, restando apenas ela, a ideia dos pensamentos, se mantendo no ar frio congelando aquilo que eu poderia ter sido.
Permaneço.

Vivamo-nos

quarta-feira, agosto 28, 2013 § 0

Encontrei-os, encontraram-me, formamo-nos.
Somos.
Vivemos. Agora. Depois, também, e continuaremos vivendo.

Vivamo-nos.

Caminho

§ 0

Irei, com a paz de que vim.

Onde estou

§ 0

Abandonei muitas conjugações ao longo das páginas.
O chão não existe no passado. É imagem.
O chão não existe no futuro. É projeção.
Amo onde piso, onde estou, o que sou.
Estou aqui, no fim daqui, no começo de mim.
Algumas páginas restantes, porém tantas, tantas a serem preenchidas.
Aprendi a amar o branco, o vazio, o espaço - esta é a proposta. É o início, é o convite. O branco me chama a preenchê-lo, contá-lo, dizê-lo, em conjunto, a contorná-lo, a desenhá-lo, a sê-lo.
Sou este branco quando branco não mais for.
Sou tinta, sou incisão, intervenção. Cometo, cometo cor, cometo ideia, cometo erro, cometo alma.
Coloro tanto, porém tudo se torna tão transparente.
O que sou está aqui, está lá, porém não. Está nos seus olhos, no seu repertório. O que eu sou está em você.
Sejamos todos, sejamos ninguém, sejamos alguém, sejamos além.

Transcendendo

§ 0

A transformação é aquele nosso direito primeiro.
É nossa reorganização, a dança dos átomos, realinhando-se em um novo quem.
"Quem" é pouco, se é tudo, se é alguém, se é coisa, se é carne, se é rígido.
Quisera-se transformar-se em coisa, pois és, desde já, seja impermeável.
Seja tudo, seja nada, seja nado, seja ruído.
Transfigure-se, transcenda a si mesmo, seja pele, seja vidro, seja caminho, seja destino.
Retorne, remolde, repita, reforme.
Seja, até não ser mais.
Reencontre-se além, despeça-se de si se percebe que você não existe mais aqui.
Exista outro, esqueça-se, deixe-se, reviva, renasça.
Tu já pegaste fogo, as cinzas já são você. Basta, apenas, se erguer.

Uma paixão análoga

§ 0

Quase passou despercebida aos meus olhos, mas quando a notei, confesso, senti um quê de algo diferente, de exótico, a mistura me excita, o que não se tem nome, o não rotulável, aquele quê de desconhecido, de inalcançável, aquele tom a mais, aquele outro a menos, mais disso, mais daquilo, mas que mistura fenomenal.
Tanto, mas tanto, resumido em algo tão simples. Não é verde, não é amarelo, é amarelo também é verde, é verde mas também tem amarelo, é bela, é simples, é reluzente, acaricia com seu calor embora pudesse ter sido fria, por tão pouco, quase, quase foi outra, mas é ela, é bela, repito e me admiro.
Me corresponderei com ela por muito tempo, ai que felicidade. Não vejo o fim chegar, ela é nova, estará comigo por tanto tempo, um pedaço da luz, um pedaço da natureza, um pedaço de mim.
Ai, vai, diz que sim...

Amarelo no branco

§ 0

O mais difícil de se enxergar é, frequentemente, o que nos traz mais prazer ao conseguirmos.
Quero apertar os olhos, me curvar, decifrar, quero entender.
Te pergunto, te ouço. Pergunto aos temperos, pergunto às flores, pergunto aos amores, e espero que não me contem o final.
Vou descobrindo, vou andando, recitando aos temperos, flores e amores, recito o resultado de minhas investigações, meus pareceres, recito meus olhos, recito meu corpo, recito respiro, recito sentir, recito tocar, deixo as respostas pelo caminho para que outros as encontrem e as transmitam.
Já virei, já pulei, já fui, sumi.

Uma edificante epidemia

terça-feira, agosto 27, 2013 § 0

Poderia passar a eternidade imerso à poesia da árvore, e já sinto eternos os instantes em que o faço, e breves, assim, tudo-em-um.
O ritmo, a fonética, o pensar rítmico, a escrita sonora, o dizer febril, o registrar curador.
Minha febre é paz, minha doença me nutre, me fortalece, meu tossir me confirma a vida.
Espero ajudar a contaminar outros, quero esta edificante epidemia, ai que calor.
Vá.
Seus dedos aguardam a firmeza das cores que te registram.

A palavra vive

segunda-feira, agosto 26, 2013 § 0

Nascemos com a semente da palavra dentro de nós. Somos seu pergaminho, mantendo-a viva. Deixamos amadurecer, tomar cor, e então...
Vida!
Plantamos esta semente aqui, ali, vamos plantando a ideia em nosso caminho. Somos Elzéard Bouffier da ideologia, dos sentimentos. Cultivamos esta comunicação na esperança de se encontrar nos braços literários de outro.
Plantamos nossa palavra aguardando que outros cheguem e a reguem, a amem, digam palavras doces sobre suas folhas, sobre seus frutos; que os colham e utilizem-nos para salvar um enfermo, ou mesmo alguém que não saiba precisar do fruto da palavra.
Os frutos caem com o bater dos ventos, as sementes crescem, dão novas folhas, flores, novos frutos, novas palavras. A palavra se multiplica, a palavra se alastra, a palavra alcança.
A palavra vive.

À procura

domingo, agosto 25, 2013 § 0

Encontre-se aqui, encontre-se ali. Encontre-se em si, encontre-se em mi.
Encontre-se assim, encontre-se sem fim, encontre-se em mim, encontre-se jasmim.
Encontre-se dor, encontre-se flor, encontre calor, encontre-se amor.
Encontre-se movimento, encontre-se temperamento, encontre-se envolvimento, encontre-se sentimento.
Encontre-se filosofia, encontre-se ideologia, encontre-se magia, encontre-se harmonia.
Encontre-se.
Encontre-se vida.

Frio, o calor

sábado, agosto 24, 2013 § 0

O toque
o frio
o toque
no frio
o frio
no toque
aquece
a despedida
no toque
do frio

Confirmação

sexta-feira, agosto 23, 2013 § 0

A confirmação é o ventre ao qual estamos convenientemente presos.
Rebele-se.

DIY

quinta-feira, agosto 22, 2013 § 0

Transcenda, transcenda-o, transcenda-se.
Seu recurso é você.
Você é seu pincel, você é sua cor, você é sua palavra.
Seu melhor pensamento é o sentir.
Seja sincero, seja verdadeiro, seja você.
Eu quero conhecer você.
Eles querem conhecer você.
Você quer conhecer você.
Seu sentimento te edifica.
Seu sentimento te traduz.

Fluidez

quarta-feira, agosto 21, 2013 § 0

Fluidez. Sim, esse é seu nome. Uma garota aparentemente qualquer chamada Fluidez.
Pode-se imaginar e anteceder sua personalidade, seus trejeitos, sua aparência e sentimentos, apenas por seu nome. Mas isso funciona apenas para nós, que estamos aqui, à beira de uma página, à beira do papel, à beira da poesia da árvore.
Já conhecemos a estrutura das intenções da palavra. Deciframos uma criatura apenas por seu nome mas, curiosamente, nossas expectativas e atitudes tornam-se outras se esta bela criatura existe.
A vida de Fluidez é uma enquanto atrelada às cores de uma caneta. Outra, quase oposta, quando atrelada à realidade da carne, dos órgãos, do respiro.
Tu tratas Fluidez com simpatia ao lê-la e imaginá-la.
Tu tratas Fluidez com amargor ao vê-la, conhecê-la, apertar-lhe as mãos.
"Fluidez? Que patético."
Assim como ela, escolheremos todos à viver uma vida nas páginas à atrever a enfrentar uma realidade cotidiana apoética.
Você conhece Fluidez.
Ela passou pelo seu caminho, você tirou sarro e seguiu adiante. Você a esqueceu para depois admirá-la em belas palavras de descrição.
Encontre-a hoje, ela está em todos os caminhos, em todos os lugares. Veja-a, ouça-a, ouça-a, ouça-a.
Uma palavra proclamada não pode valer menos que uma palavra escrita.

Maqêdo | A raíz

terça-feira, agosto 20, 2013 § 0

Maqêdo tem seus leitores enquanto personagem, porém nenhum ouvinte enquanto pessoa.
Ele vive.
Você vive.
Eu vivo.
Porém eu sou visto, você é amado, Maqêdo é ignorado. Como é possível amar palavras mais que um ser vivo?
Eu o lia enquanto carne.
Tu o lês enquanto intangível.
Leia, por favor, leia, leia, leia seu próximo. A poesia vive na carne que respira.

O elemento cíclico

segunda-feira, agosto 19, 2013 § 0

De dentro da terra, ele se ergueu.
Não sabia o que era nome, o quera família, o que era destino, o que era.
Tinha a cor da mesma terra de onde se levantou, e logo ali, olhando para o buraco de onde saíra, entendeu: era filho da terra.
Andou alguns passos e abraçou uma árvore. Logo, entendeu o que era família, o que era afeto, ao ser coberto com as folhas que caíam de sua irmã. Era amado.
Animais passavam, pássaros cantavam, todos viviam. Logo, entendeu o que era casa.
Era filho da terra e queria, então, dar-lhe netos. Tirou sua perna e a plantou. A outra também. Depositou cada uma de suas partes em um local de sua casa, deixando-se, por último, onde poderia renascer e crescer vendo suas crias florescerem. Continuou, mesmo ao seu fim.
Da terra saiu, à terra voltou, e da terra retornou.

O não-ato final

domingo, agosto 18, 2013 § 0

O fim está próximo. E como todos nós, ele sabe. Sabe quase, meio sabe, sabe não. Quê? Fazer? Dizer? Ouvir? Quê? Ser? O que ser no fim?
Seria outro? Transformar-se-ia em um alguém outro quem. Transformar-se-ia em silêncio, invariavelmente, posteriormente. Poderia seu silêncio transformar-se em eco?
Retornaria. Retornaria? Como poderia se apegar ao eterno retorno quando não havia qualquer coisa mais à qual retornar?
Está. Existe. É. Agora. Há apenas o presente, e isto é tão absoluto quanto o sol que não nascerá amanhã.
Esvazia-se. Abre-se. Eleva-se. Alinha-se na órbita do presente, aquele, que recebemos de alguém querido.
Abraça seu presente. Agradece por seu presente. Alegra-se. Será ideia, será eco, será sentimento.
É sentimento.
Sente.
Sentiu, sente, sentirá.
Ao fim, o único verbo que lhe estava garantida a eterna conjugação.

Um salto

sábado, agosto 17, 2013 § 0

E se uma abstração se mostrar mais concreta do que se podia imaginar?
Talvez devêssemos remontar as peças e entender a imagem formada por este belo quebra-cabeça.
Sim, amo as curvas. Amo o precipício ao fim da estrada, mas amo mais o salto que é preciso dar para alcançar o outro lado dele, a outra beira, o outro limite.
Recomeçar uma estrada desconhecida, um país outro, outra língua, outro pensar.
Reconhecer-me no fundo dos olhos do desconhecido, e enxergar ali um outro eu, um outro "posso", um outro "consigo".
Seu melhor espelho é aquele que você espera que não o seja. É aquela surpresa de se identificar em grãos de terra, em uma fruta suspensa, no olhar de um gato.
Veja o outro, veja o próximo, veja o distante e veja o respiro, veja a vida, veja a mutação, veja a emoção.
Não deposite sua vida em uma linha reta. Ame as curvas, ame o salto.
Remonte seu quebra-cabeça, e veja a abstração te sintetizar.

Uma convicção mútua

sexta-feira, agosto 16, 2013 § 0

"Venha a mim" ela disse.
Ele poderia corresponder às suas vontades, até mesmo um pouco às suas próprias, porém pairava sobre sua cabeça a dúvida de que isso realmente seria um recomeço. Poderia deixar tudo para trás?
Foi até ela. Se satisfizeram. Esqueceu tudo o que havia acontecido anteriormente.
A carne está envolta da ideologia.
Lambe-se suas crenças, chupa-se a idoneidade, tudo para chegar à carne, ao júbilo inigualável.
Quem eram aqueles dois que se levantavam agora não importava mais. Estavam preenchidos de uma satisfação maior do que a trazida pela conviccção.
Estavam convictos, sim... Convictos da carne.

Um imenso bem-estar

quinta-feira, agosto 15, 2013 § 0

Não se pode recomeçar por um vazio; reconectar as pontas soltas. Elas nunca se soltaram. Estão mais conectadas que nossos olhos desesperados conseguem ver.
Vamos seguindo, partindo de um novo capítulo, de novas perspectivas, de novas experiências.
Jamais voltar atrás, o horizonte está à frente, vejo-o por sob a névoa que criei.
Estou assoprando, abro meu caminho, meu compasso está a meu lado, segurando minhas mãos, mesmo se me esqueço em alguns momentos.
Não estamos sozinhos aqui, ninguém está. Não vemos, frequentemente não ouvimos, porém sentimos, acreditamos e seguimos este caminho compartilhado.
Ninguém trilha solitário um caminho de pedras. Vivemos todos em uma floresta, onde cada um escolhe sua árvore de referência e suas flores às quais perseguir. Mas estamos todos aqui, compartilhando das mesmas cores e nos reencontrando entre uma semente e outra.
Podemos seguir, até mesmo nos distrair, que encontraremos nosso lar, banhado em um imenso bem-estar.

Sem destino

sábado, fevereiro 09, 2013 § 0

Sem destino programado, pode-se viver cada sílaba de uma sentença caminhada, uma palavra extraída na xícara, e bebemos este dizer. Podemos ser este singelo refletir, ignorando a busca, a expectativa, o retorno somos nós, este é meu dinheiro.
Sem destino programado, caminho cada sentença de uma sílaba vivida, e assim percorro meu conhecer, uma frase sem fim, um ponto sem nó, a vírgula é esta minha parceira, e juntos continuaremos o meu não saber, o meu ir, o meu retornar, o meu partir.
Retorno, e me volto outra vez.

Esta palpitação

quinta-feira, fevereiro 07, 2013 § 0

Vem de dentro, vem sem razão, jamais um “não”, eu quero sim, está em mim, sei de antemão que não tem fim, eu quero assim, uma sensação, dessas sem noção, é duro mas é profundo, é minha permissão, meu respiro, minha ação, de onde se nutre, se fortalece, e se percebe uma leve excitação, assim me envolve esta palpitação.

Maria Rosa

sábado, janeiro 19, 2013 § 0

Eu a conheço. Conheço este cheiro de tranqüilidade ao aproximar meu imaginar de seu ser. Ela está. Ela é. Assim. Em mim. E nela. Ela por si só. Sem mim. Não precisa de minha criação para existir. Esteve aqui antes mesmo de eu chegar, apenas me aguardando me preparar para chegar e então narrar. Tenho pouco a dizer sobre aquela ansiedade recorrente, afinal, ela não a sente. Tenho muito a aprender com seu não exagerar no pensar, com seu agir, com seu puro progredir. Faz, faz, faz, e não olha para trás, está além do limiar, está num outro como existir que só faz persistir, para assim poder se encontrar. Encontro-a todas as manhãs na curva da esperança, às tardes no quarteirão da coragem, e às noites nos becos da perseverança. É a suave lembrança deste outro como reagir, de como se desinibir para então conquistar. Conquista a mim, conquista a você, conquista a quem se deixar ouvir, quem se permitir enfim contemplar este leve reinar a si mesmo, reinar seu próprio corpo, reinar sua própria mente, reinar seu próprio desejo, e saber tê-lo em si. Não o tateia, não o aperta, apenas mantém o desejo guardado, visualizado, sabe tê-lo onde precisa, na hora certa exprimirá, deixará escorrer, condensará esta vontade em leveza, é assim, de um leve sentir que surge, que se cria, que me mostra este outro como viver. Eu a conheço, e assim desejo ser. Mas se a compreendi, sei que não posso me limitar a desejar. O que posso me permitir é persistir.

O verso da prosa

quarta-feira, janeiro 16, 2013 § 0

A prosa é brava
mas disfarça
a farça
que me alveja

E a gente embarca
sem se despedir
e sem perceber
que estamos prontos para nos reconhecer

Já parti
e me transformei
ao regredir
àquilo que senti

E gostei
daquilo que me tornei
e agora sei
que não retornarei

Estarei comigo
conhecendo meu destino
e me determino
a ser meu amigo

Agora me planto em seu abrigo
para ser seu
e se me colhe com afinco
posso enfim ser eu

Um encontro

§ 0

Quem é ela?
Que injusto de minha parte, me iniciar com uma pergunta, e ainda, uma sem resposta. Não a conheço, talvez possa tê-la visto sem saber que era ela, por isso não posso descrevê-la, não posso narrá-la, posso apenas desejar um dia conhecê-la. Não sei bem quando. Sobre o destino, acredito nele quando eu o desejo, quando espero que realize-se, que me traga o que preciso. Acredito no destino por pura necessidade. Sei que preciso de alguém comigo, e sei que esse alguém é ela, com quem irei trombar num momento oportuno, onde poderei me desculpar apenas para então me apresentar. E então, ela saberá que eu sou ele.
Não. Assim como não sei seu nome, ela também não sabe o meu. Poderemos nos apresentar e ainda assim não nos reconhecermos. Terei de dizer algo bonito, algo agradável, ela retrucará, sei que ela será geniosa, gosto assim, das inalcançáveis, mesmo que estejamos perto, o rosto próximo do dela, ainda assim estarei tão longe. Ela será difícil, não poderei tocá-la até conquistá-la, mas não sei bem como. Não a conheço, não sei seus gostos e desgostos, seus sonhos e seus medos. Talvez seja melhor assim, poderei conhecê-la devagarzinho, saboreando cada sílaba de seu contar. Quero isso, me aproximar, nos tornarmos um. Mal posso esperar.
- Olá, desculpe, não pude deixar de notar você escrevendo. Parece conter tanta paixão enquanto o faz. O que você escreve?
- Dá licença moça, não vê que estou ocupado? Oras.
Como ia dizendo, mal posso esperar o dia em que esse encontro acontecer. Ainda bem que essa moça se foi. Posso continuar a escrever.

Aquele toque

domingo, janeiro 13, 2013 § 0

Posso começar do fim, e dizer que o início é a turbulência. Claro, como poderia se iniciar na calma, numa demasiada fragilidade? A verdade que se configura é uma pura tempestade. Quantos pensamentos. É o aliciamento dos sentimentos, aqueles, que não possuímos, como a palavra que escrevo. São do outro. São dele, dela. Guardam os sentimentos na garganta, deixando seus desejos inflamarem, queimarem o corpo com tanta facilidade.
Posso começar do fim, e dizer que o início é o toque. Ele, justo ele, começa a história, quando sentimos o outro e percebemos constatamos sua realidade, construindo o que imaginamos, vendo urgir esta necessidade do corpo do outro, tanta sagacidade para unificar esta dualidade. Deixa-se escorrer a inabilidade para tornar-se o gestor da sensação. É, de antemão, o louco da paixão, e então toca. Toca o outro. O último ato é de fato o primeiro, onde germinam as sementes, pulsando este sentimento que retorna, que vem, e não se vai, apenas percorre o corpo dentro das veias, dentro da pele, é a própria carne que nos envolve, e nos devolve esta vontade, esta habilidade em dividir desta única verdade: a de que a saudade do toque é aquilo que nos move. Este tempo entre o toque é o enfoque do pensamento. Os segundos que o antecedem são esta eternidade, a dor de uma imensa ansiedade.
Posso acabar com o início, e dizer que o fim é, enfim, esta fragilidade.
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