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Do Gato Maduro e a Velha Senhora

terça-feira, novembro 10, 2009 Comments Off

Existe uma mulher. Ela tem certa idade. Ela vive sozinha. Ela é feita de tecidos.
Leva sua vida de forma bastante solitária, mas sempre sorridente para com todos os outros. Na verdade, ninguém nunca desconfia de que ela seja uma senha bastante infeliz e insatisfeita.

Ela anda pelas ruas, homens e mulheres brancas, negras, de pele amarela, de tecido, vários sempre acompanhados, casais. Ela inveja secretamente isso. poder ter alguém consigo.

Um dia, um gato pula o muro para dentro de seu jardim. Tenta afugentá-lo, mas sem sucesso. Ela imagina que ele esteja com fome, e alimenta-o. O gato volta freqüentemente a partir de então, até que vira um novo morador da casa da velha senhora.

Com o passar do tempo, seu afeto pelo novo companheiro é tão grande que a velha senhora começa a misturar seus sentimentos, se apaixonando pelo gato maduro, mesmo que este nunca tenha mostrado grande empatia por ela. Talvez fosse isso que o tornasse tão atraente.

A velha senora tenta de todas as formas se aproximar do gato, forçando-o a se aproximar dela, até de forma literal, pressionando o corpo do gato conra si. O gato, tentando se afastar, gruda as longas unhas na pele de tecido da velha senhora e, descobre então, ser tão agradável afiá-las ali como fazia no sofá, na cama, e tem tudo que grudasse.

O gato não se afasta mais da velha senhora, sempre grudando e puxando suas longas unhas da pele de tecido da velha senhora, que inicialmente, acha a realização de seu sonho servir para o gato de alguma forma.

Depois de certo tempo, a senhora repara o enorme desgaste em sua pele devido ao gato, e repara estar se tornando cada vez mais desforme. A velha senhora, então, se determina a se afastar do gato o quanto antes, tentando expulsá-lo de sua casa, tirando sua comida, tudo que lhe interessava, mas ele não desistia, e se tornava ainda mais intolerante e determinado a afiar suas unhas na velha senhora, mesmo que não tivesse mais comida nem ela aparência, e continua, e continua, até que da velha senhora de tecidos não sobra nada além de intermináveis fios de tecido pela casa e só restado lá o gato maduro.

Maqêdo | Além das Pedras e Areias

terça-feira, março 03, 2009 Comments Off

Sendo esta uma dádiva incomum, existem poucos aqueles que ultrapassam certas barreiras.

Como um personagem incomum que, dentro de sua própria história, enxerga teu narrador como um de si. Um igual.

Maqêdo, como um personagem incomum, sem sê-lo de fato, aponta-me seus dedos grossos de sabedoria encardida olhando em desencontro aos olhos meus, dizendo-me silenciosamente que conhece mais do mundo que minhas palavras conhecem dele.

Este vê-me.

Como alguém incomum, alguém além, este testa-me a compreensão mostrando-se capaz de atravessar certos limites que acreditamos existir, enxergando além das pedras e areias com as quais nos encobrimos, reclusos, além da carne, além dos olhares, além das linhas, além do fim, além de nós, além de mim.

Este vê-me.
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