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A Comédia das Entrevistas

quinta-feira, agosto 24, 2006 § 0

Uma coisa que deve ser sempre admirada é a entrevista de emprego. A fauna natural, aquela natureza e o convívio dos animais é cliché perto da entrevista de emprego.

Tudo começa com um comentário ao ar de alguém com déficit de atenção, talvez sobre o tempo, ou então criticando alguma coisa.

O terreno é totalmente desconhecido: não se sabe que lugar é aquele, como deve ser lá dentro, nem quem raios são aquelas outras pessoas, então alguns se sentem na necessidade de conhecê-las, e mesmo com tantos assuntos para escolher, tanta coisa acontecendo no mundo, o infeliz insiste em começar a conversa falando de trabalho, como se a própria situação não fosse o suficiente para sanar esse assunto. E pior, como se falar de emprego não fosse suficiente, começa então a falar sobre justamente a falta de emprego.

"Não! Todas as pessoas aqui estão empregadas, com salário fixo no fim do mês, ganhando bem, e sustentando a família; estão aqui só de mentirinha", de repente me vem na cabeça.

E o mais engraçado é quando alguns começam a compartilhar de histórias de entrevistas, pegadinhas em entrevistas, e blablabla; engraçado porque eles falam de tudo, o que aconteceu, como aconteceu, mas nunca dizem como se livraram da situação. É assim: "eu compartilho com você a parte engraçada; as táticas ficam pra mim. ;)"

Assim vai passando o tempo, as pessoas todas lá esperando sua vez, como se estivessem na sala de espera do próprio dentista, e então sai aquele recém-entrevistado. As pessoas se seguram em suas cadeiras pra não agarrá-lo gritando "como foi!? como foi!?", e resistem honrosamente, até que lhe vem na cabeça que não te importa como foi, porque você se sairá melhor, então, naquela overdose de hipocrisia, você vai e solta "ah, tchau! E... Boa sorte...".

É claro que ela não está desejando boa sorte. Tudo o que ela não quer é que a outra tenha sorte. Ela está se remoendo por dentro em pensamentos do tipo "deve ter espirrado na cara do entrevistador...", ou os mais inseguros, "vai ser atropelado, pobrezinho". E o recém-entrevistado, ouvindo a outra desejando boa sorte, tem plena consciência de que ela deseja exatamente o oposto, mas decide responder à altura, e então solta um "Muito obrigado!", e não contente, querendo superar a idiotisse da primeira pessoa, completa com "Boa sorte pra você também!".

5 segundos depois, os dois viram as costas um pro outro, e o rosto sorridente vira aquela cara de velha-mal-comida, estampado na testa "Eu estava mentido! Ha Ha Ha!".

Lógico que ao final do dia, ninguém mais lembrará de qualquer um deles, com excessão daquela dupla que sempre tem em todas as entrevistas, do rapaz solteiro flertando com a peituda indisponível, mas até ai, existe até no supermercado.

Um dia eu também escrevo sobre a comédia do supermercado, mas nunca você vai achar alguém no supermercado tão hipócrita quanto a galera da entrevista (obviamente, com excessão daquela velha sem vergonha que puxa papo com você na fila do caixa, e sutilmente vai enfiando o carrinho na sua frente, mesmo que seja o caixa rápido, e você só tenha um pacote de bolachas e uma caixa de leite na cesta, mas isso já é outra história).
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