Archive for maio 2007

Mundo/Tempo Pt. 2

quinta-feira, maio 31, 2007 § 0

O que nós temos são valores.

São valores próprios, valores dos outros, da sociedade, de nossos amigos, de nossos parentes. Carregamos conosco a mais variada quantidade de valores. Carregamos os nossos, respeitamos os de nossos familiares, consultamos o de nossos amigos.

Nós também temos metas. Metas nossas, só nossas. Mas, devemos conquistá-las através de nossos valores próprios, respeitando o de nossos familiares, e consultando o de nossos amigos. Como conciliar tudo? Conciliar todos, todas as opiniões...

Até onde devemos seguir o roteiro pré-formulado para nós? Devemos seguí-lo? Ou devemos criar o nosso próprio roteiro, seguir nossos instintos..? Devemos confiar em nós mesmos?

Como convencer os outros de que o seu roteiro é o melhor para você? É o seu filme, você é o diretor, e você realmente confia no roteiro. Não aquele editado e reformulado pelos executivos do estúdio, mas aquele escrito pelo roteirista que ninguém conhece, mas que você sabe que é bom. Aquele roteirista que você sabe que tem talento. Como você vai convencer todas as outras pessoas envolvidas no filme, todos os produtores, os patrocinadores, todos, de que aquele é o caminho que você realmente acha que deva ser seguido?

Você realmente tentará convencê-los, ou abrirá mão, seguindo seu caminho, produzindo-o independentemente, ao lado de pessoas que nunca precisou convencer para estarem do seu lado?

São valores, muitos valores... Valores demais para um único filme.

Mundo/Tempo

terça-feira, maio 29, 2007 § 0

Você já teve aquela sensação de que a vida é curta demais pra você? De que o mundo é grande demais para ser aproveitado tão rapidamente?

Aquela sensação de saber que, não importa que caminhos você escolha, você nunca vai aproveitar tudo que quis, tudo que quer, tudo que quiser...

Maqêdo | Lágrimas e Rezas

sexta-feira, maio 11, 2007 § 0

No mundo, há muitas pessoas que rezam. Não importa quando, como, nem com que freqüência. Mas existe um ponto em que todas, de alguma forma, acabam rezando. Seja numa confissão de desejo baixinho para si mesmo, figurando algo na mente em troca, seja ajoelhado, lamuriando aos prantos.

Maqêdo reza. Ele anda agitadamente, apoiado em seu pedaço de madeira, e vai até o local o mais alto no meio das pessoas, literalmente no meio, onde todas passam rapidamente com seus móveis de quatro rodas. Olha bem em volta, olha para todos, para tudo, fixamente. Ergue seu cetro, e começa a lamentar em voz alta, tão alta, que ninguém o ouvia. E ele sabia disso. Lamentava por isso também. Todos, tão preocupados com suas próprias vidas, fazendo ruídos ensurdecedores com suas carroças à gasolina, e ninguém o ouvia.

Ele grita, chacoalha seu cajado aos céus, lágrimas escorrem por seu rosto negro, suas barbas brancas. Lamenta por eles, todos eles. Anda em seu gramado, balançando, chorando, pedindo que mudem, que vejam, que entendam.

Fecha a cara, aponta o cajado para um, bem distante, e gira em torno de si mesmo, apontando para todos, enfurecido, praguejando, blasfemando.

As pessoas seguem reto, seguem rápidas, intocáveis, inatingíveis.

Maqêdo perde-se de vista, deixado para trás. Transforma-se num ponto pequeno, bem distante, ao fundo do espelho retrovisor. Maqêdo desaparece para sempre, até o dia seguinte.

Maqêdo | Apresentação

terça-feira, maio 01, 2007 § 0

Existe um homem. Ele pode ser visto todos os dias.

Faz uso de uma camiseta e calça, ambas pretas, ambas velhas, ambas rasgadas, sujas, fedidas. Sapato, em estado igual, com exceção à cor, marrom.

Como acessório, carrega um cobertor às costas. Xadrez. Velho. Rasgado, sujo, fedido.

É visto todos os dias, religiosamente, no mesmo centro da cidade, através das ruas, dos pontos de ônibus, dos olhares amedrontados, das expressões de desprezo e repugnância.

Coisa que poucos sabem, é que ele retribui as expressões de desprezo e repugnância igualmente.

Caminhando meio torto por entre as multidões de pessoas receosas, pessoas vomitando olhares, ele, com seu copo descartável branco na mão direita, o ergue de forma sutil, uma ofensa que só ele compreende, enquanto resmunga palavras desconhecidas e impronunciáveis, desdenhando essas pessoas vazias e fáceis vivendo em seus mundinhos vazios e fáceis.

Ele as desdenha, com prazer. Pessoas rasas, com morais tortas e dignidade rachada.

Rí das pessoas escorregando para longe dele. Rí do medo inexplicável que elas criam dentro delas. Com tantas coisas terríveis no mundo, em suas casas, nelas mesmas, elas resolvem sentir medo dele.

Olha de canto para elas, de forma sutil e despreocupada, cuspe ao chão, e pára ao lado da única pessoa que o ignorou como ele deveria ser ignorado, e murmura sons de reprovação às outras pessoas, como um amigo que puxa o outro para difamar próximo à orelha.

Continua andando. Resolve dar algo a elas, algo que elas se recusam a dar a ele. Ele as ignora. Ignora da mesma forma como elas deveriam ignorá-lo, e não o fazem. Porque era só isso o que ele queria. Era só o que ele era. Algo a ser ignorado.
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