O amigo o vê chegando, que se senta a seu lado.
- Estou entediado. O que faremos hoje?
- Não sei. Tenho já meus planos. Você não fará nada?
- Não. Devo ir pra casa e dormir. Deve ser o mais o próximo de animação que conseguirei hoje. E você? O que fará?
- Nada demais. Devo morrer.
- Legal.
[...]
- Só tem isso a dizer?
- Como assim?
- Acabo de dizer que vou morrer.
- E eu disse "legal".
- Não se importa?
- Claro que me importo. Te amo. Mas você parece decidido.
- Não vai tentar me salvar? Convença-me de que é um erro!
- Mas não é um erro.
[...]
- Vou morrer.
- Cuidado pra não se machucar.
[...]
- Mas vou morrer.
- Mas até morrer pode doer né. Toma cuidado.
[...]
- Por que faz isso?
- Isso o que?
- Essa apatia toda. Não sentirá falta de mim?
- Muito. Muito. Muito.
- E então!?
- Mas você não morreu ainda.
[...]
- E quando eu morrer? Quando toda essa saudade bater aí?
- Aí eu viro para meu outro amigo, num dia comum, e quando ele me perguntar o que pretendo do meu dia, digo que morrerei.
- Por mim?
- Não. Por saudade.
- A saudade é tão grande assim?
- Maior que você.
- Não me ama então?
- Amo sim. Mas amo mais a falta que você me faz.
- Então eu aqui agora não te afeta em nada?
- Não.
- E quando eu te afetarei?
- Quando você se for daqui.
- Não prefere me querer enquanto estou aqui agora? Logo terei de ir. Já estou atrasado.
- Não consigo te querer agora. Você já está aqui.
- Vou me sentar ali então.
[...]
- Volte pra cá.
- Me quer agora?
- Agora sim.
- Mas ficarei aqui então. Aqui não te quero.
- Por que não?
- Porque você não está aqui.
[...]
- Vou morrer.
- Você já disse.
[...]
- Quando você morrer, sentirei sua falta.
- Você também já disse.
[...]
- Não temos nada mais a dizer então?
- Acho que não. Acho que você já pode ir morrer.
- Adeus então.
- Adeus. E se cuide, novamente. Tente não se machucar.
- Tentarei. Te amo.
[...]
- Não dirá que me ama também?
- Agora não. Vou esperar você morrer.
- Ok.
- Adeus.
- Adeus.
Grave esse dia
Há 6 anos