Archive for abril 2008

Despedida

quinta-feira, abril 10, 2008 Comments Off

O amigo o vê chegando, que se senta a seu lado.

- Estou entediado. O que faremos hoje?

- Não sei. Tenho já meus planos. Você não fará nada?

- Não. Devo ir pra casa e dormir. Deve ser o mais o próximo de animação que conseguirei hoje. E você? O que fará?

- Nada demais. Devo morrer.

- Legal.

[...]

- Só tem isso a dizer?

- Como assim?

- Acabo de dizer que vou morrer.

- E eu disse "legal".

- Não se importa?

- Claro que me importo. Te amo. Mas você parece decidido.

- Não vai tentar me salvar? Convença-me de que é um erro!

- Mas não é um erro.

[...]

- Vou morrer.

- Cuidado pra não se machucar.

[...]

- Mas vou morrer.

- Mas até morrer pode doer né. Toma cuidado.

[...]

- Por que faz isso?

- Isso o que?

- Essa apatia toda. Não sentirá falta de mim?

- Muito. Muito. Muito.

- E então!?

- Mas você não morreu ainda.

[...]

- E quando eu morrer? Quando toda essa saudade bater aí?

- Aí eu viro para meu outro amigo, num dia comum, e quando ele me perguntar o que pretendo do meu dia, digo que morrerei.

- Por mim?

- Não. Por saudade.

- A saudade é tão grande assim?

- Maior que você.

- Não me ama então?

- Amo sim. Mas amo mais a falta que você me faz.

- Então eu aqui agora não te afeta em nada?

- Não.

- E quando eu te afetarei?

- Quando você se for daqui.

- Não prefere me querer enquanto estou aqui agora? Logo terei de ir. Já estou atrasado.

- Não consigo te querer agora. Você já está aqui.

- Vou me sentar ali então.

[...]

- Volte pra cá.

- Me quer agora?

- Agora sim.

- Mas ficarei aqui então. Aqui não te quero.

- Por que não?

- Porque você não está aqui.

[...]

- Vou morrer.

- Você já disse.

[...]

- Quando você morrer, sentirei sua falta.

- Você também já disse.

[...]

- Não temos nada mais a dizer então?

- Acho que não. Acho que você já pode ir morrer.

- Adeus então.

- Adeus. E se cuide, novamente. Tente não se machucar.

- Tentarei. Te amo.

[...]

- Não dirá que me ama também?

- Agora não. Vou esperar você morrer.

- Ok.

- Adeus.

- Adeus.

Sobre a Falta de

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Hoje me senti acolhido.

De trás da grande janela do escritório, olhei para cima e vi as nuvens. Nuvens cinzas, carregadas, e a garoa caindo de leve, tranqüila.

De trás da grande janela, vi o dia cinza, pessoas de peles saturadas, quase uma película em p&b. Por de trás da grande janela, assisti, por instantes, um filme de 1942. Mas antes que sequer me sentisse habituado às cores e falta de, um grande buraco nas nuvens se abriu, permitindo a passagem de um enorme facho de luz, que mesmo que eu odeie a palavra a "facho", era esplêndido. E nem era esplêndido. Era uma luz comum, a luz do sol, de todos os dias, desde que o sempre é sempre. Mas era esplêndido, pra mim, ali. Meu filme logo pulou décadas e décadas no tempo, parando em 2008, no hoje, no agora, nesse instante. E no facho de luz, que tanto odeio o nome e tanto admiro sua beleza, vi ali a possibilidade de mudar tudo. Se um filme de 1942 pode se transformar no filme da minha vida de 2008, minha vida de 2008 pode se transformar em qualquer coisa, ainda que não seja um filme. Ou talvez seja.

O facho de luz estava ali para me lembrar que apesar de todas as gotas de chuva que possam cair, pode existir sim um lugar no meio da rua, uma grande mancha seca e dourada no chão, brilhando, à parte de todas as saturações do resto, à parte de todas as gotas de chuva que caiam sobre nós. O grande buraco na nuvem estava ali para me lembrar que existe sim um local aproveitável sob a chuva.

Mas depois de tudo isso, acabei abandonando todas essas idéias, porque, afinal... Na verdade, toda gota de chuva é aproveitável. Tudo existe para nós, para o nosso melhor. O que varia, no fim da história, é o que fazemos com o que nos é dado. A chuva está lá. Amargure-se com ela, procure um buraco na nuvem, ou aproveite tudo e dance na chuva, por mais cliche que soe. Afinal, já sabem o que digo sobre cliches. Mas nem é sobre cliches que vim falar hoje. É sobre a chuva. E a falta de.

Nem é.

É sobre a vida.

E a falta de.

Maqêdo | O Fim

quarta-feira, abril 09, 2008 Comments Off

E à frente das altas chamas da fogueira ao fundo, queimando forte em meio a todos, Maqêdo caminha até a borda, e ergue a cabeça em afronta a eles, enquanto diz, como um último suspiro de sanidade em si:

"Este é o fim."
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