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Maria Rosa

sábado, janeiro 19, 2013 § 0

Eu a conheço. Conheço este cheiro de tranqüilidade ao aproximar meu imaginar de seu ser. Ela está. Ela é. Assim. Em mim. E nela. Ela por si só. Sem mim. Não precisa de minha criação para existir. Esteve aqui antes mesmo de eu chegar, apenas me aguardando me preparar para chegar e então narrar. Tenho pouco a dizer sobre aquela ansiedade recorrente, afinal, ela não a sente. Tenho muito a aprender com seu não exagerar no pensar, com seu agir, com seu puro progredir. Faz, faz, faz, e não olha para trás, está além do limiar, está num outro como existir que só faz persistir, para assim poder se encontrar. Encontro-a todas as manhãs na curva da esperança, às tardes no quarteirão da coragem, e às noites nos becos da perseverança. É a suave lembrança deste outro como reagir, de como se desinibir para então conquistar. Conquista a mim, conquista a você, conquista a quem se deixar ouvir, quem se permitir enfim contemplar este leve reinar a si mesmo, reinar seu próprio corpo, reinar sua própria mente, reinar seu próprio desejo, e saber tê-lo em si. Não o tateia, não o aperta, apenas mantém o desejo guardado, visualizado, sabe tê-lo onde precisa, na hora certa exprimirá, deixará escorrer, condensará esta vontade em leveza, é assim, de um leve sentir que surge, que se cria, que me mostra este outro como viver. Eu a conheço, e assim desejo ser. Mas se a compreendi, sei que não posso me limitar a desejar. O que posso me permitir é persistir.

Christian Verona

sábado, janeiro 05, 2008 Comments Off

Um golfinho nada pelas águas de forma graciosa, divertida. Atrai os olhares de todos, que se divertem, acham-no lindo em seus movimentos quase circenses.

O golfinho mergulha às profundezas. Outros se juntam. Em questão de minutos, ele está coberto de sangue. Não seu, de outros. Sua violência é camuflada por sua graciosidade. Esse é um típico golfinho.

Esse é Christian Verona. Sua beleza dá-lhe acesso a tudo que quer. Não importa quem seja, o poder que tem, a vida que leve... Ela se deixará levar pelo olhar ingênuo e rosto juvenil de Christian. Em minutos de conversa, a pessoa já estará confidenciando-lhe os segredos mais implosivos. "Qual o problema?", pensam. "Um rapaz tão carinhoso, atencioso...". Nunca faria qualquer mal. Nunca faria qualquer mal. A maior ilusão que Christian as faz cair. Elas mesmas nunca acreditariam se ouvissem. Só entendem quando é tarde demais, depois que ele já lhes tomou tudo que quisera. Mas aí já é tarde. Tarde demais até para avisar aos outros do demônio que os controla.

- Porque esse "demônio" que me julga também te controla.

Ninguém jamais o derruba. Ninguém tem influência, ou poder, ou simplesmente coragem. Christian Verona lhes tira tudo isso.

- Não pode me derrubar. O anjo que vê em mim é um demônio há muito já caído. Daqui não há mais para onde descer.

Vivian Franco

segunda-feira, dezembro 03, 2007 § 0

Com uma perna frente à outra, sem mover qualquer outra parte do corpo, ele caminha até a poltrona. Com sua taça de Mitolo erguida à altura do peito, ele deixa claro que aquele recinto é seu.
Senta-se levemente, olhando fixo para o outro, jogado sobre o sofá no extremo oposto da sala.
Uma pessoa comum poderia achar, à primeira vista, que seus olhos fossem inexpressivos. De uma escuridão absoluta, seus olhos tinham uma sedução bem diferente de as de seus irmãos.
Seus olhos negros criavam um abismo, onde a pessoa que o olhava, sem perceber, se deixava levar pela sua profundidade, leve e sutilmente.
Vivian não precisa de sorrisos de canto, Vivian não prostitui seu olhar. Sua concentração é sua sedução. Enquanto as pessoas se deixam flutuar nas águas negras de seus olhos, ele permanece imóvel, petrificado, petrificando os outros como gelo, deixando sem reação, sem controle, sem conseguir respirar, ofegando, suando...

Vivian Franco domina invisivelmente como um vampiro no espelho. Quando você percebe, seu sangue já escorre por sua boca. E você gosta, você sente prazer, você agradece, ofegando em sílabas distorcidas, "obrigado...".

Vivian leva a taça à boca, e desvia o olhar, com a feição inalterável, bebendo suavemente, enquanto responde em sua mente "Não agradeça. Não o fiz por você".

Diário de Lavínia Opperman

sexta-feira, março 09, 2007 § 0

5 de Agosto de 2039

Depois de tantas coisas escritas, sentimentos transcritos, histórias narradas, apenas agora fui parar para perceber como consigo falar de mim mesma de forma tão casual, fluida, quase como se estivesse conversando com meus amigos.

Devo ter herdado isso de minha mãe. Às vezes noto em mim a agitação e animação que ela costuma ter quase sempre. Certamente não foi de meu pai que herdei isso.

Pessoa fechada, ao mesmo tempo que descontraído. Fala, e se deixar, fala bastante, mas nunca sobre si próprio. Nunca entendi bem isso, apesar de já termos conversado sobre. Às vezes penso que, talvez, se ele não fosse tão sério e fechado, não teria chegado tão longe na vida. Mas mesmo assim, às vezes sinto falta daquela liberdade nas conversas como tenho com minha mãe. E tudo isso acaba sendo engraçado, porque por mais distante que ele se coloque, é dele meu maior afeto (e que minha mãe não leia isso!). Não sei bem por que, mas sempre, desde pequena, eram os abraços dele que mais me emocionavam e confortavam, eram as conversas dele que mais me interessavam, era dele quem mais sentia falta nas férias.

Mesmo assim, não é exatamente algo que eu pretenda ter com meus filhos. Não quero nutrir essa barreira na minha relação com meus filhos. Na verdade, acho que eu nem deveria estar pensando nisso agora; é muito cedo ainda (e sempre digo isso, e sempre acabo pensando nisso). É, acho que estou fadada a ser uma dona-de-casa. Só não sei bem quanto tempo ficarei casada com meu marido. Espero que até lá eu tenha resolvido esse meu lado meio-apático.

Minhas amigas costumam comentar sofrerem do mal da falta de interesse depois de algum tempo. Comigo é quase o inverso. Eu demoro pra me apegar a alguém. Diz minha mãe que herdei isso dela, porque meu pai era o homem mais apaixonado que ela tinha visto até então, enquanto ela nunca foi de se surpreender facilmente. Isso é comprovado pelo fato de eles só terem começado a sair oficialmente muitos anos depois de se conhecerem. Eles dois têm história, acredite.

Às vezes fico olhando meus amigos, brincando de descobrir qual deles será meu marido. Alguns dias dá empate, em outros ninguém ganha. É justamente esse meu medo. De que, num dia, meu marido seja o homem mais lindo do mundo, e na semana seguinte, seja apenas aquele senhor de rosto sério e sombrancelhas franzidas que mora em minha casa. Ninguém tem controle sobre isso. Todos nós sabemos que tudo é eterno enquanto dura. Então, acabo chegando na conclusão de que é simplesmente um risco a correr. Acredito que não devemos nos perguntar se estamos dispostos a passar o resto da vida com aquela pessoa, mas se estamos dispostos a concretizar o que temos agora, e dispostos a lutar pra que aquilo dure o máximo possível.

Apesar de que, com certeza, quem me conhece diria que não sou a pessoa certa pra falar de relacionamentos duradouros; principalmente meus ex-namorados. Nunca deu certo de fato com qualquer um deles. Era algo bom, que me rendia história e experiência, mas eu sinto como se eu nunca houvesse tido uma história especial, aquela coisa deliciosa que guardamos conosco pelo resto da vida, mesmo que não tenha terminado como gostaríamos ou esperávamos.

Receio que eu nunca vá ter uma história especial assim. Que eu nunca terei músicas, lugares, objetos que me transportassem pra um universo passado, outra vida, outros sentimentos, outras pessoas...

Mas aí eu me lembro que sou jovem. Muito jovem. E apesar de isso ser relativo, eu sou de fato jovem, muito jovem, o que me dá grandes esperanças de viver algo assim futuramente. Acho que só devo esperar.

Não. Meu pai brigaria comigo se me ouvisse dizer que preciso esperar. Me mandaria viver a vida, viver cada momento, e não esperar o grande acontecimento, mas viver minhas histórias, que sozinhas traçarão o caminho até o grande acontecimento, a grande história. E terminaria dizendo que esse papo de "histórias especiais" são idiotices, porque tal coisa não existe, ou existe demais, dependendo do ponto de vista. Porque não existe uma grande história especial em nossa vida, mas um grande número de histórias, histórias que montam nossa vida, e que tornam nossa vida especial.

Então, vou viver minha vida. Por mais que erros possam ser cometidos, e escolhas mal tomadas, é um risco que eu decidi correr. Não posso mais esperar grandes pessoas em minha vida. Agora é hora de eu procurá-las, e torná-las especiais.

Ninguém fará isso por mim, senão eu mesma.

Homem

quinta-feira, fevereiro 15, 2007 § 0

Já cheguei a achar que não poderia mais me surpreender comigo mesmo; que já conhecia quase tudo de mim; que só o que ainda não conhecia, era o que eu ainda mudaria em mim mesmo futuramente.

De repente, encontrei em mim um homem de esperança. Talvez sempre tenha sido assim, talvez tenha acabado de me tornar. Não importa. É o que sou agora.

Sinto correr em mim a esperança, esperança de segundas chances, esperança de que conseguirei o que quiser e lutar por.

Sinto correr em mim a força de vontade que esteve oculta há muitos anos, o poder de luta que havia perdido quando o mundo começou a se tornar fácil para mim.

Já cheguei a achar que não voltaria a ser o que fui outrora. Mas estava errado. Voltei a ser, e voltei mais forte.

De repente, acordei um homem de força, de esperanças, de vontades.

De repente, acordei um homem.
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