Archive for janeiro 2007

Águas Secas de Um Corpo Sem Vida

sábado, janeiro 27, 2007 § 0

Há muito tempo, eu fui alguém sentimental.

Há muito tempo, roubaram a sensibilidade de mim.

Já fui doce, meigo, gentil, e tantas outras coisas nobres e admiráveis.

Hoje, sou um velho sem nada. Hoje, sou as carcaças deixadas pelas pessoas ao longo de minha vida.

Já fui jovem, belo, respeitado e admirado. Tudo isso foi roubado de mim.

Não sinto mais nada. Me roubaram a capacidade de sentir, de chorar, de me emocionar, de me irritar. Sou hoje a estátua-humana pintada de branco, que só serve para divertir e assustar.

Sou, hoje, pedaços de outros, pedaços de histórias, pedaços de experiências, de memórias. Sou um protótipo de sentimentos, um protótipo infuncional, um robô com problemas técnicos deixado de canto para a eternidade, substituído pela sua versão 2.0.

Sou hoje os pedaços que constituíram uma vida uma vez. Sou o monstro de Frankeinstein.

Mentira.

Nunca poderia sê-lo. O monstro, por mais horrível que fosse, havia sido abençoado com o poder da sensibilidade. Sou menos que o monstro. Eu sou um monstro de Frankeinstein que nunca deu certo. Não acordei, não senti, não respirei, não vivi. Só o que fui, foram pedaços. Pedaços de sentimentos, de mim, e outros.

Distância

segunda-feira, janeiro 22, 2007 § 0

A distância não torna nossos sentimentos menos reais.

Só os torna mais ou menos intensos.

O Segredo do Medo

domingo, janeiro 21, 2007 § 0

As pessoas têm medo de segredos.

Não.

O que as pessoas temem é não saber o segredo dos outros.

Ninguém tem medo dos próprios segredos. Ele está seguro, seguro conosco, protegido. O que nós sentimos pelos nossos próprios segredos não é medo, é remorso e/ou arrependimento, e acabamos confundindo esse remorso por medo.

E quanto aos segredos alheios, também não é medo que sentimos. É uma mistura de insegurança, curiosidade e inveja. Inveja de querer saber o que apenas elas sabem (porque saber é poder, e poder é algo que todos almejamos); curiosidade de saber o que pode ser tão importante que deva ser guardado; e insegurança de que aquilo possa te afetar de alguma forma caso fosse descoberto (porque, afinal, somos nós a questão, sempre).

As pessoas têm medo. Claro que tem. Mas não é medo do segredo, não é medo das outras pessoas. As pessoas temem a si próprias. Temem as coisas terríveis que são capazes de fazer, e que só elas sabem que poderiam.

As pessoas são seus próprios medos.

Você é seu próprio medo.
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