Archive for julho 2012

Direito

terça-feira, julho 17, 2012 § 0

O direito é relativo. Não teme nem desdenha, mas julga e te condena.

Batalha do meu desejo

segunda-feira, julho 16, 2012 § 0

Se não quer vir, vou obedecer. Viajo a teu encontro e te aguardo sob ti. Se te vejo, me escondo. Se me busca, te confronto. Travo a batalha do meu desejo, e se me perco, te encontro. Se te peço, é porque caço, e se me desfaço, me redimo e te abraço. Não te deixo ir porque me quer bem, mas se me quiser também, confesso que vou partir. Se te deixo, desmereço, mas se te beijo, logo aprendo e repreendo se me afogo no temperamento que me conduz sem me guiar, abandonando seu bem-estar e motorizando o desprendimento. Te descubro em um momento, e me esqueço a seguir. Cego, sigo o desmoronamento do pensamento que convir, e se te revelar, confie que será apenas para amar.

Sonhar

domingo, julho 15, 2012 § 0

Sonhar nunca é tão alto quanto onde podemos chegar.

Uma só conversa

sábado, julho 14, 2012 § 0




A conversa é o motor da nossa alma. Dirige nossos pensamentos à via de si, carregando o fruto de nossa natureza enquanto amadurece na caçamba de nossa pureza.
Ela dita o ritmo dos passos que dançaremos ao tocar a música de uma palavra trocada, sorrindo as descrições de uma personalidade alcançável, enquanto tateamos uns aos outros no escuro do descobrimento.
Recebemos o presente da presença compartilhada, partindo de nômades do conhecimento a cultivadores do sentimento, plantando o próximo e colhendo a si mesmo a cada instante, soltando-se amadurecido da árvore da Vida prontos para redescobrir a fronteira do eu.
Inaptos a reconhecer o fim, procuramos semear a eternidade de um debate, assoprando o perfume de uma dúvida ansiosos para inalar a bondade de uma resposta, redesenhando cada começo, certos de que, enfim, nos encontraremos no meio.

Maqêdo | A próxima ausência

quarta-feira, julho 11, 2012 § 0

Uma espera torna-se obsoleta se seu motivo esquece-se de ressurgir. A dinâmica de uma máquina vê seu propósito se esvair.
Ele não está aqui, e com ele se foram os nós dos dedos, os cravos das rosas, a canela do arroz e até os pés do moleque. Seu desapego é cego, e sua presença despede-se sem voz. Quis eu que seu retorno me reanimasse, mas uma proximidade nunca pareceu tão distante.
Ele se foi.

Trinca de desejo

terça-feira, julho 10, 2012 § 0

O desejo é aquele que fica
reassimila
e se esvai
Se sai
realinho
e me conduzo
Se deduzo
reascendo
e me guardo
Só aguardo
relembro
e me distraio
Se retraio
realmente
me desfaço
Se rechaço
reaprendo
e renasço.

Uma confiança colorida

segunda-feira, julho 09, 2012 § 1

Confio em minhas canetas. Elas são as carpinteiras do meu sentido. Busco a mim mesmo na retórica de outros e aguardo-me na ordem dos parágrafos.
Despir-me é um ato contínuo, e busco na condescendência alheia a tranqüilidade para comigo mesmo.
Corrijo-me a todo instante, esperando me tornar alguém que não eu mesmo, mas se nem sei quem sou, então por que tanto temperamento?
Vejo as linhas transcenderem-se em confissão.
Palavras que não me deixam partir.
Quebro a ordem, e desmascaro-me a seguir. Revejo-me a qualquer momento, e a todos a todo instante. Prevejo meu passado e relembro meu futuro apenas para esquecer-me do presente, inutilmente.
Teço o que desconheço e não esqueço da sinceridade. Me apego à realidade, e não abandono seu apreço. Decido o que continuo, e se descontinuo, desmereço. Reflito meus desejos, e me perco se aguardo.
Procuro o reflexo de mim em outros, impulsionando os sentimentos revelados a um crescimento igualitário.
Encontro o nutriente da alma.
A calma me afaga as vertentes, e conduzo-me na paz da confiança.
Busco as verdades, e se elas não forem suficientes, então perco a esperança.

Freqüência

domingo, julho 08, 2012 § 0

O que faremos com o tempo?
Ele vem, e se vai, deixando seus rastros de conhecimento.
Quero abraçá-lo e não mais soltá-lo; torná-lo eu, imutável, invencível, e imortal.
Volúvel, modifico-me no ar enquanto sua direção mudar, tornando-me outros, inconfiáveis e irreconhecíveis.
O tempo me define quando molda a argila das minhas características.
Sou nada, e o tempo é tudo, enquanto nada contra a freqüência do mundo.

Estática

sábado, julho 07, 2012 § 0

Uma folha que cai não diz quase nada a um ouvinte desatento.
A Natureza consegue declamar mais do que nossos ouvidos sabem captar.
Não sei o que sou, mas dizem-me a todo instante.
Guardo comigo a presença de mim, quem posso confiar e nunca poderei abandonar.
Uma folha caída diz mais que meus ouvidos sabem apreciar.

Medo

sexta-feira, julho 06, 2012 § 0

Ter o frio coçando o ventre nos incapacita das funções mais básicas; retira de nós o propósito do ser. Tornamo-nos o ventríloquo de nós mesmos, obrigando-nos a cumprir regras estapafúrdias que traçamos num momento de desespero, em que vimos nada ou ninguém à nossa volta além de nós mesmos rodopiando em torno de nossa própria redundância.
Queremos o que queremos e não podemos, e isso nos mata, lentamente, dentro de nossa mente amedrontada, incapaz de aguardar a vida por um momento sequer, sem nem mesmo querer descobrir quanto é um momento, sem querer enxergar ou utilizar os sentidos para com a ajuda disponível à nossa volta, certos de que somos os únicos desbravadores de nossa própria vida, uma certeza frágil e sem embasamento, certos de que a dúvida calcificará os alicerces do nosso conhecimento, sem sentir a brisa gélida de um ser descoberto e desamparado do mundo a não ser por seu único e confiável amigo: o medo.

Retorno

quinta-feira, julho 05, 2012 § 0

Queria começar de trás, repetindo a história devagarzinho para ter as sensações formigarem os dedos dos pés conforme o novo chegar, mesmo sem ser tão novo, mesmo sem ser tão chegado. Aproveitar e reaproveitar cada instante como se estivesse de olhos vendados, somente ouvindo o zumbido da abelha da novidade.
Queria desenhar os trajetos já percorridos igualmente a primeira vez e ser chamado de plagiador, apenas para sentir a dor de um ventre que se abre à luz mais uma vez, recriando o milagre vez após a outra, progressivamente, e rever a felicidade para sempre.
Queria voltar os filmes premiados de minha vida e rever cada beijo apaixonado que dei nos maiores amores que vivi.
Queria viver desde o primeiro dia do encontro da alma-gêmea, e cruzar novamente cada palavra e completar cada frase e se completar a cada segundo que não passa, apenas permanece, como uma fotografia bem retirada que só nos mesmos poderíamos retirar de dentro da própria história.
Queria chegar e reviver simplesmente para não mais ir embora.

A distância dos polos

quarta-feira, julho 04, 2012 § 0

Queria te dizer o quanto sinto tua falta, mas o barulho diz menos que o silêncio incessante de uma distância temporariamente irreparável, cavando o vazio numa já pequena alma, desnorteando-me de um trajeto já invisível para meus olhos unilaterais.
Perco a noção dos dias que conto religiosamente, e com ela a força que me abandona os músculos do contentamento, regredindo aos passos de uma evolução falha conforme o fim perde-se de vista e a luz parece-me ser muito cara para enxergar.
A proximidade é meu combustível, o toque energiza-me e recobra a lucidez que se esvai a cada dia que passa.
Você sabe, você me conhece, vivo do calor dos sentidos aguçados e quero reter a paixão até necrosar-me o coração. Não sei andar sozinho, caminho o trajeto do destino, que desconheço e bato cada milha ou polegada do mapa ainda em branco, aguardando-me pacientemente para retornar e trilhar a fagulha do amor, que acendo e me incendeio nesse beco sem saída.
Queimo conjunto a paz, que não me julgo pronto o suficiente para sentir, enquanto cozinho-me para me servir do banquete do aprendizado. Se essa pausa me é benéfica, serve apenas para realinhar-me na órbita dos meus desejos, que multiplicam-se conforme estou.
Não quero ser o ingrato da calma, e agradeço pelas oportunidades que crio e me recriam. Almejo apenas três por cento de tudo aquilo que pretendo, mas às vezes até pouco parece muito longe.
Ter é não ter até poder, e o que posso é tomar o tempo como amigo, e esperar que a nutrição da espera nos fortaleça. Quero-me bem, assim como a ti também.

Sempre seu,

Renan Cesar Antunes

Lambança

§ 0

A dança lança a lembrança da matança da vizinhança quando a mudança da governança alcança.

Livro de receitas

terça-feira, julho 03, 2012 § 0



Um livro de receitas é a agenda de uma família, que não se toca a não ser nos momentos de segredo revelado, uma mágica pontual, onde confessamos a habilidade de concretizar histórias inéditas e, ainda que não, guardamos a sensação de revisitar uma ação que nos é benéfica, e diz mais sobre nós do que mil palavras assadas.

A pergunta das cores

domingo, julho 01, 2012 § 0

Gosto de escolher a cor, mas ela não muta-se
O que se modifica é o que não quero
Querer é solidificar para ver-se derreter
Condenso o que quero, e estremeço se reparo
Notar-me é um refúgio, onde me enalteço
Estilizo meu quarto e maquio meus livros
A palavra é rasa, mas afogo-me sem ver
O que exergo é invisível, e se descrevo, deixa de ser
Sou só, mas se escrevo, idem
O mesmo idealizo, e tão breve recrimino
Incrimino-me no cinza, mas apago rosa
A rosa não criei, e se só eu sei, então deixei
Abandono o ismo, e abraço o ade
A verdade é só saudade
Reencontro minha liberdade no desuso de outros
Eu pedi, eu recolhi
O lixeiro é o sultão de uma vida desperdiçada
Valorizo o real, e realizo o patriarcal
A família é unida, e nunca se desvencilha
Me desvio do que anseio, desejo o que não quero, e o que quero não recebo
O receio me recria, e da vida, desconheço
Apresentam-me um amarelo, mas meu azul já o esverdeou
A transformação inebria, e a brisa se perdeu
Busco a pergunta de uma cor preferida, mas a resposta foi você quem me deu.
Todos os direitos reservados. Tecnologia do Blogger.