Archive for janeiro 2013

Maria Rosa

sábado, janeiro 19, 2013 § 0

Eu a conheço. Conheço este cheiro de tranqüilidade ao aproximar meu imaginar de seu ser. Ela está. Ela é. Assim. Em mim. E nela. Ela por si só. Sem mim. Não precisa de minha criação para existir. Esteve aqui antes mesmo de eu chegar, apenas me aguardando me preparar para chegar e então narrar. Tenho pouco a dizer sobre aquela ansiedade recorrente, afinal, ela não a sente. Tenho muito a aprender com seu não exagerar no pensar, com seu agir, com seu puro progredir. Faz, faz, faz, e não olha para trás, está além do limiar, está num outro como existir que só faz persistir, para assim poder se encontrar. Encontro-a todas as manhãs na curva da esperança, às tardes no quarteirão da coragem, e às noites nos becos da perseverança. É a suave lembrança deste outro como reagir, de como se desinibir para então conquistar. Conquista a mim, conquista a você, conquista a quem se deixar ouvir, quem se permitir enfim contemplar este leve reinar a si mesmo, reinar seu próprio corpo, reinar sua própria mente, reinar seu próprio desejo, e saber tê-lo em si. Não o tateia, não o aperta, apenas mantém o desejo guardado, visualizado, sabe tê-lo onde precisa, na hora certa exprimirá, deixará escorrer, condensará esta vontade em leveza, é assim, de um leve sentir que surge, que se cria, que me mostra este outro como viver. Eu a conheço, e assim desejo ser. Mas se a compreendi, sei que não posso me limitar a desejar. O que posso me permitir é persistir.

O verso da prosa

quarta-feira, janeiro 16, 2013 § 0

A prosa é brava
mas disfarça
a farça
que me alveja

E a gente embarca
sem se despedir
e sem perceber
que estamos prontos para nos reconhecer

Já parti
e me transformei
ao regredir
àquilo que senti

E gostei
daquilo que me tornei
e agora sei
que não retornarei

Estarei comigo
conhecendo meu destino
e me determino
a ser meu amigo

Agora me planto em seu abrigo
para ser seu
e se me colhe com afinco
posso enfim ser eu

Um encontro

§ 0

Quem é ela?
Que injusto de minha parte, me iniciar com uma pergunta, e ainda, uma sem resposta. Não a conheço, talvez possa tê-la visto sem saber que era ela, por isso não posso descrevê-la, não posso narrá-la, posso apenas desejar um dia conhecê-la. Não sei bem quando. Sobre o destino, acredito nele quando eu o desejo, quando espero que realize-se, que me traga o que preciso. Acredito no destino por pura necessidade. Sei que preciso de alguém comigo, e sei que esse alguém é ela, com quem irei trombar num momento oportuno, onde poderei me desculpar apenas para então me apresentar. E então, ela saberá que eu sou ele.
Não. Assim como não sei seu nome, ela também não sabe o meu. Poderemos nos apresentar e ainda assim não nos reconhecermos. Terei de dizer algo bonito, algo agradável, ela retrucará, sei que ela será geniosa, gosto assim, das inalcançáveis, mesmo que estejamos perto, o rosto próximo do dela, ainda assim estarei tão longe. Ela será difícil, não poderei tocá-la até conquistá-la, mas não sei bem como. Não a conheço, não sei seus gostos e desgostos, seus sonhos e seus medos. Talvez seja melhor assim, poderei conhecê-la devagarzinho, saboreando cada sílaba de seu contar. Quero isso, me aproximar, nos tornarmos um. Mal posso esperar.
- Olá, desculpe, não pude deixar de notar você escrevendo. Parece conter tanta paixão enquanto o faz. O que você escreve?
- Dá licença moça, não vê que estou ocupado? Oras.
Como ia dizendo, mal posso esperar o dia em que esse encontro acontecer. Ainda bem que essa moça se foi. Posso continuar a escrever.

Aquele toque

domingo, janeiro 13, 2013 § 0

Posso começar do fim, e dizer que o início é a turbulência. Claro, como poderia se iniciar na calma, numa demasiada fragilidade? A verdade que se configura é uma pura tempestade. Quantos pensamentos. É o aliciamento dos sentimentos, aqueles, que não possuímos, como a palavra que escrevo. São do outro. São dele, dela. Guardam os sentimentos na garganta, deixando seus desejos inflamarem, queimarem o corpo com tanta facilidade.
Posso começar do fim, e dizer que o início é o toque. Ele, justo ele, começa a história, quando sentimos o outro e percebemos constatamos sua realidade, construindo o que imaginamos, vendo urgir esta necessidade do corpo do outro, tanta sagacidade para unificar esta dualidade. Deixa-se escorrer a inabilidade para tornar-se o gestor da sensação. É, de antemão, o louco da paixão, e então toca. Toca o outro. O último ato é de fato o primeiro, onde germinam as sementes, pulsando este sentimento que retorna, que vem, e não se vai, apenas percorre o corpo dentro das veias, dentro da pele, é a própria carne que nos envolve, e nos devolve esta vontade, esta habilidade em dividir desta única verdade: a de que a saudade do toque é aquilo que nos move. Este tempo entre o toque é o enfoque do pensamento. Os segundos que o antecedem são esta eternidade, a dor de uma imensa ansiedade.
Posso acabar com o início, e dizer que o fim é, enfim, esta fragilidade.
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