Confio em minhas canetas. Elas são as carpinteiras do meu sentido. Busco a mim mesmo na retórica de outros e aguardo-me na ordem dos parágrafos.
Despir-me é um ato contínuo, e busco na condescendência alheia a tranqüilidade para comigo mesmo.
Corrijo-me a todo instante, esperando me tornar alguém que não eu mesmo, mas se nem sei quem sou, então por que tanto temperamento?
Vejo as linhas transcenderem-se em confissão.
Palavras que não me deixam partir.
Quebro a ordem, e desmascaro-me a seguir. Revejo-me a qualquer momento, e a todos a todo instante. Prevejo meu passado e relembro meu futuro apenas para esquecer-me do presente, inutilmente.
Teço o que desconheço e não esqueço da sinceridade. Me apego à realidade, e não abandono seu apreço. Decido o que continuo, e se descontinuo, desmereço. Reflito meus desejos, e me perco se aguardo.
Procuro o reflexo de mim em outros, impulsionando os sentimentos revelados a um crescimento igualitário.
Encontro o nutriente da alma.
A calma me afaga as vertentes, e conduzo-me na paz da confiança.
Busco as verdades, e se elas não forem suficientes, então perco a esperança.
Grave esse dia
Há 8 anos
Adorei a figura 'canetas carpinteiras do meu sentido'.
Identifiquei-me com a idéia de despir-se constantemente, buscando na condescendência alheia a tranquilidade para si mesmo.
Foi o que sempre fiz a ponto de me tornar outra que não eu. Mas como disseste, se nem sabemos quem somos, como saber se estamos deixando de ser quem somos?
Lindo e profundo o texto.
Um grande abraço.
Vânia