Sem querer, ele esbarra no relógio na parede, que cai, estilhaçando o vidro que protegia os ponteiros. Com a queda, os ponteiros entortam, mas ele não percebe. Recolhe os pedaços de vidro e recoloca o relógio em seu lugar.
Os ponteiros continuam a bater normalmente, durante alguns segundos, até que o longo ponteiro se encontra com o médio, e lá permanecem. Com o segundo entrelaçado ao minuto, o tempo não andava.
Pareceria poético e belo. Eles se encontraram e não mais quiseram se soltar. Sob regras que diziam que deveriam se cruzar a todo minuto e não por mais que um segundo, foram contra tudo e todos e, frente a olhos inexoráveis, abraçaram-se forte, derrubando todas as lógicas, regras, leis e ordens. O mundo ignoraram, e o tempo pararam.
Mas o tempo precisa continuar a andar. É preciso que concessões sejam feitas. Os ponteiros precisam abrir mão daquilo pelos propósitos maiores; pelo tempo; pelo mundo. Precisam se soltar, se libertar um do outro para que a ordem se reestabeleça, para que tudo volte a funcionar. E com a tristeza de uma consciência não desejada, os ponteiros se desentortam. Soltam-se. Libertam-se.
Despedem-se.
A ordem flui novamente, com as chagas dos preços que se pagam, cicatrizes de tudo que deve-se abrir mão por.
E o segundo se vai, com a minimo consolo de poder estar de volta dentro de um minuto, por um segundo, pelo resto dos tempos.
Grave esse dia
Há 7 anos