Beija-Flor

domingo, fevereiro 24, 2008 Comments Off

Sobre o sofá escuro frente à grande janela ele se mantinha deitado, sem expressão nos olhos, nem nada que declarasse o mínimo sinal de vida, dentro do largo cômodo.

A cidade que se via lá fora compartilhava do mesmo espírito, ou falta de, se mostrando vazia e inerte a si mesma, por sob nuvens abstratas, volúveis, tão mecânicas como a televisão ao canto, muda, falando alto, sozinha, para si, e mais ninguém.

E em contraste a todo o cinza daquele universo, daquela cidade inóspita lá embaixo, lá longe, o beija-flor chega rápido, com toda a energia que falta a tudo aquilo, e pára frente à grande janela, com aquele mundo em rascunhos de Manet ao pano de fundo, intensificando todo o vazio que lá existia, e intensificando toda a vida e cores de Monet em si mesmo conforme batia suas asas fortemente, como uma surpresa a tudo que poderia se esperar de tal lugar, como um presente, um prêmio, um milagre. Como comprovando que apesar de todas as dores e tristezas dos seres, ainda existe uma linha de esperança, de felicidade... Que as cicatrizes do mundo podem sim ser curadas, com um beijo, um único beijo, o beijo que salvará todos, de todas as suas dores, suas agonias... O beijo que salvará todos os corações de suas desilusões, colocará esperanças em todos os que já perderam-nas. O beijo que trará a esperança. A Esperança.

Asas que batem forte, asas improváveis, insperadas... Mas que lá estão. Batendo forte. Nos fazendo lembrar que, sim, o bem ali existe.

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