Destempo

sábado, fevereiro 02, 2008 Comments Off

Ele sai correndo atormentado pela casa. O piso torna-se escorregadio com suas lágrimas. Pega todos os relógios de parede, um por um, arranca o fundo, e coloca-os de volta com a frente virada para a parede. Ao terminar de virar o último, o grande na parede principal da sala, senta-se numa cadeira virado de frente para o relógio invertido, e começa a enxugar as lágrimas, tentando conter o choro.

Seu irmão, vendo-o, absolutamente sem compreensão, fixa o olhar nele ao perguntar séria e lividamente.

- Que porra...!? Por que fez isso com os relógios!?

Ele começa a tentar responder, e ao perceber que só o que sai de seus lábios são grunhidos em notas desformes, sentindo o choro sair de dentro de si, pára e respira, tentando se recompor novamente. Com calma, usando longas pausas, responde, sem ousar tirar os olhos do grande relógio na parede, que agora batia seu longo ponteiro em sentido inverso.

- Estou esperando. Daqui há algumas horas, estaremos de volta no hospital, na sala com ela. Estou esperando voltar a chance que perdi de dizer a ela que a amo.

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