Maqêdo | Apresentação

terça-feira, maio 01, 2007 § 0

Existe um homem. Ele pode ser visto todos os dias.

Faz uso de uma camiseta e calça, ambas pretas, ambas velhas, ambas rasgadas, sujas, fedidas. Sapato, em estado igual, com exceção à cor, marrom.

Como acessório, carrega um cobertor às costas. Xadrez. Velho. Rasgado, sujo, fedido.

É visto todos os dias, religiosamente, no mesmo centro da cidade, através das ruas, dos pontos de ônibus, dos olhares amedrontados, das expressões de desprezo e repugnância.

Coisa que poucos sabem, é que ele retribui as expressões de desprezo e repugnância igualmente.

Caminhando meio torto por entre as multidões de pessoas receosas, pessoas vomitando olhares, ele, com seu copo descartável branco na mão direita, o ergue de forma sutil, uma ofensa que só ele compreende, enquanto resmunga palavras desconhecidas e impronunciáveis, desdenhando essas pessoas vazias e fáceis vivendo em seus mundinhos vazios e fáceis.

Ele as desdenha, com prazer. Pessoas rasas, com morais tortas e dignidade rachada.

Rí das pessoas escorregando para longe dele. Rí do medo inexplicável que elas criam dentro delas. Com tantas coisas terríveis no mundo, em suas casas, nelas mesmas, elas resolvem sentir medo dele.

Olha de canto para elas, de forma sutil e despreocupada, cuspe ao chão, e pára ao lado da única pessoa que o ignorou como ele deveria ser ignorado, e murmura sons de reprovação às outras pessoas, como um amigo que puxa o outro para difamar próximo à orelha.

Continua andando. Resolve dar algo a elas, algo que elas se recusam a dar a ele. Ele as ignora. Ignora da mesma forma como elas deveriam ignorá-lo, e não o fazem. Porque era só isso o que ele queria. Era só o que ele era. Algo a ser ignorado.

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