Maqêdo | Lágrimas e Rezas

sexta-feira, maio 11, 2007 § 0

No mundo, há muitas pessoas que rezam. Não importa quando, como, nem com que freqüência. Mas existe um ponto em que todas, de alguma forma, acabam rezando. Seja numa confissão de desejo baixinho para si mesmo, figurando algo na mente em troca, seja ajoelhado, lamuriando aos prantos.

Maqêdo reza. Ele anda agitadamente, apoiado em seu pedaço de madeira, e vai até o local o mais alto no meio das pessoas, literalmente no meio, onde todas passam rapidamente com seus móveis de quatro rodas. Olha bem em volta, olha para todos, para tudo, fixamente. Ergue seu cetro, e começa a lamentar em voz alta, tão alta, que ninguém o ouvia. E ele sabia disso. Lamentava por isso também. Todos, tão preocupados com suas próprias vidas, fazendo ruídos ensurdecedores com suas carroças à gasolina, e ninguém o ouvia.

Ele grita, chacoalha seu cajado aos céus, lágrimas escorrem por seu rosto negro, suas barbas brancas. Lamenta por eles, todos eles. Anda em seu gramado, balançando, chorando, pedindo que mudem, que vejam, que entendam.

Fecha a cara, aponta o cajado para um, bem distante, e gira em torno de si mesmo, apontando para todos, enfurecido, praguejando, blasfemando.

As pessoas seguem reto, seguem rápidas, intocáveis, inatingíveis.

Maqêdo perde-se de vista, deixado para trás. Transforma-se num ponto pequeno, bem distante, ao fundo do espelho retrovisor. Maqêdo desaparece para sempre, até o dia seguinte.

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