Águas Secas de Um Corpo Sem Vida

sábado, janeiro 27, 2007 § 0

Há muito tempo, eu fui alguém sentimental.

Há muito tempo, roubaram a sensibilidade de mim.

Já fui doce, meigo, gentil, e tantas outras coisas nobres e admiráveis.

Hoje, sou um velho sem nada. Hoje, sou as carcaças deixadas pelas pessoas ao longo de minha vida.

Já fui jovem, belo, respeitado e admirado. Tudo isso foi roubado de mim.

Não sinto mais nada. Me roubaram a capacidade de sentir, de chorar, de me emocionar, de me irritar. Sou hoje a estátua-humana pintada de branco, que só serve para divertir e assustar.

Sou, hoje, pedaços de outros, pedaços de histórias, pedaços de experiências, de memórias. Sou um protótipo de sentimentos, um protótipo infuncional, um robô com problemas técnicos deixado de canto para a eternidade, substituído pela sua versão 2.0.

Sou hoje os pedaços que constituíram uma vida uma vez. Sou o monstro de Frankeinstein.

Mentira.

Nunca poderia sê-lo. O monstro, por mais horrível que fosse, havia sido abençoado com o poder da sensibilidade. Sou menos que o monstro. Eu sou um monstro de Frankeinstein que nunca deu certo. Não acordei, não senti, não respirei, não vivi. Só o que fui, foram pedaços. Pedaços de sentimentos, de mim, e outros.

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