Poesia de Arranha-Céu

terça-feira, julho 03, 2007 § 0

O barulho dos carros não atrapalha. Até complementam. Fazem parte de uma sinfonia. São a base da música, o papel de parede, o cenário daquela peça.

Os atores são muitos, incontáveis, inimagináveis. Andando pelo infinito cenário, se tromba com todos eles, de todos os tipos.

Vou andando, vejo aquele de olhar distante, encostado na parede, procurando algo, alguém, onde está ela? Devo esperar? Estou preocupado. Olha esse cara bizarro passando, que cabelo é esse? Meu cabelo está bom? Deve estar muito chamativo. Aquele cara na parede tá olhando pra mim...

Pelo cenário, vê-se de tudo, de todos, todos os tipos, acostuma-se com tudo. Aquela roupa incompreensível se torna tão comum, divertida, te alegra os olhos. Pessoas felizes, sendo elas mesmas, as invejo, as admiro, me inspiram.

Inspiro outros, vejo nos olhares, olhares trocados, roubados, será que estava olhando pra mim? Como era linda. Droga, deixei passar. Será que estava olhando pra mim? Como era lindo. Droga, deixei passar.

Olhamos todos, procuramos alguém que procure também. Alguns já acharam, são felizes, os invejo, os admiro. Encontro-os nos becos escuros, nas salas de cinema, nas cadeiras de bar lado a lado, de braços dados, no meio da rua, num abraço apertado. Se beijam como jovens apaixonados, como se fosse o primeiro amor, a primeira paixão, a recriprocidade, a sensação de inédito, sensação de amor, meu Deus te amo, como te amo. Quero ficar aqui pra sempre, ele fala baixinho no ouvido dela, que estremece, te amo também, te quero pra sempre, pensa consigo. São amores fortes, amores de todos os tipos, de toda intensidade, ou sem felicidade, nem amor, só amargura, uma discussão no meio da rua, lágrimas caindo, gotas de chuva, o céu está cinza, está feio, sem alegria, sem amor, só uma recordação da tarde de sol que antes fora, só recordações, de um tempo bonito, de um céu cor de rosa. Aquela rosa que te dei. Te amei. Agora é só neblina. O tempo não vai melhorar. Preciso ir embora. Agora.

Vou correr, trombar com outros. O cenário é grande, os atores são muitos, são brutos, vazios de tudo. É oco, sem nada dentro, sem história, sem passado, olha pro nada, olhar vazio, vê nada, espera nada, nem ninguém, sem alguém, sem propósito, sem começo, nem meio, nem fim.

É noite, penduram a lua no fundo do cenário, atrás dos prédios, sorridentes, espectadores. Assistem a peça, os atores andando de um lado pro outro lá embaixo, cada um com sua história, sua felicidade, tristeza, sua pressa, sossego, cansaço, estou exausto, estou tão animado, a noite está linda, ficarei aqui pra sempre, meu celular está tocando. Cada um com sua história, seu começo meio e fim, suas conversas, meu celular está tocando, seus coadjuvantes, é meu irmão, e seus compromissos, preciso ir embora.

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