O Incerto Silêncio

terça-feira, julho 24, 2007 § 0

Ao longo de toda minha vida, ouvi inúmeras vezes elogios de todos os tipos. Fossem minhas notas no período escolar, fosse a camisa pólo horrível que minha mãe gostava tanto, ouvi todos os tipos de adorações que pudessem descarregar sobre mim.

Passou-se anos, muitos anos, e continuam a me elogiar. Elogiam hoje coisas específicas da pessoa que me tornei, elogiam as casas que construí, que projetei. Elogiam a família imperfeita que amo tanto, os filhos perfeitos, pedaços de mim. É o resultado do que eu queria, das vontades que tinha, da pessoa completa que sempre quis ser. Do melhor que eu sempre quis ser. Melhor pra mim, melhor entre os concorrentes, o melhor entre todos.

E todos os elogios, sei que são sinceros. Eles elogiam o que vêem, o que sabem. Mas moldei isso durante toda minha vida.

Durante toda minha vida, tive desejos, metas, sonhos... O que as pessoas elogiam, e elogiaram durante toda minha vida, é o que eu tive, o que tenho. O que conseguir ter. E isso só é possível para elas porque nunca souberam do que nunca tive.

Nunca saberão de minhas pinturas borradas, minhas encenações frustradas... Nunca sequer imaginarão a quantidade de recusas que recebi de todos os festivais de cinema que anseei tão intensamente. Não sabem nem que fiz filmes.

Só sabem do arquiteto renomado, de suas construções faraônicas, de seus "pedaços de si mesmo espalhados pelo mundo", como alguns costumam ilustrar. Só sabem de meus cálculos, de minha matemática, física, estética... De tudo que tanto sei, mas nunca consegui inserir onde realmente quis.

Vivi uma vida em segredo. Enquanto todos me viam falar, gritar, só eu conhecia meu silêncio. O silêncio da incerteza, que depois se transformou no silêncio da derrota.

São meus sonhos tropeçando no caminho da vida, e ficando por lá, de cabeça baixa, sem jamais chorar. Só um silêncio, meus sonhos acenando distante enquanto continuo andando, e um "quem sabe na próxima vida?".

What's this?

You are currently reading O Incerto Silêncio at MOURISMENT.

meta

Todos os direitos reservados. Tecnologia do Blogger.