...E lá não haverá misericórdia. Poder será o propósito de tudo. Qualquer boa ação, bom olhar, sorriso agradável... tudo terá um segundo propósito, uma "segunda intenção". Aliás, esse termo será muito comum lá, mas eles não perceberão que ele representa muito mais do que apenas um termo comum. Todos os que tiverem poder irão querer mais poder. Grande parte das más intenções serão camufladas. As poucas pessoas "sem máscaras" serão as odiadas pelas outras pessoas, as que irão à julgamento, as que serão tidas como as poucas que estragam a sociedade. Essas pessoas serão as mais honestas.
...E lá não haverá sensatez. Até os mais inteligentes se desapontarão ao perceber como eles são. Até os mais pensadores se perderão nos pensamentos. Até os mais filósofos falarão besteiras que nunca teriam dito normalmente. Os mais superficiais serão os mais felizes, os mais seguros. Todos serão bonecos, simples seres vivos, fazendo o que foram programados para fazerem, dizerem o que deverão dizer, pensar o que foram programados para pensar. Tudo será uma grande simulação, um grande programa de simulação de vidas, onde tudo está conectado, todas as ações são previsíveis, mas ninguém nunca percebe. Os pouquíssimos que perceberão o que a coisa realmente é serão tidos como loucos, anarquistas, filósofos baratos, ou então os poucos que terão poder para mostrar essa realidade à massa, serão tidos como "bons artistas", e nada mais.
...E lá não haverá percepção. Todos os temores criados por um órgão comunicativo antigo e poderoso, que todos acreditavam, na verdade estava realmente acontecendo. Todas as desgraças previstas estarão acontecendo debaixo de seu nariz, e ninguém perceberá. Todas as predições serão levadas ao pé da letra, e o que realmente significava, se perderá no meio da ignorância, e quando esta realmente acontecer, ninguém perceberá. Lá, todos viverão sobre o óleo na água, sem nunca quererem saber o que tem através do óleo, e no fundo da água, mesmo sabendo que lá há todas as respostas, mas por pura preguiça, talvez, não irão querer abrir um mero espaço entre o óleo, pra mergulhar na água tão misteriosa.
...E lá não haverá luz até escurecer. Não haverá bondade, até haver a maldade. Não haverá felicidade, até haver a tristeza. Não haverá luz, até haver sombras.
