Sobre a Falta de

quinta-feira, abril 10, 2008 Comments Off

Hoje me senti acolhido.

De trás da grande janela do escritório, olhei para cima e vi as nuvens. Nuvens cinzas, carregadas, e a garoa caindo de leve, tranqüila.

De trás da grande janela, vi o dia cinza, pessoas de peles saturadas, quase uma película em p&b. Por de trás da grande janela, assisti, por instantes, um filme de 1942. Mas antes que sequer me sentisse habituado às cores e falta de, um grande buraco nas nuvens se abriu, permitindo a passagem de um enorme facho de luz, que mesmo que eu odeie a palavra a "facho", era esplêndido. E nem era esplêndido. Era uma luz comum, a luz do sol, de todos os dias, desde que o sempre é sempre. Mas era esplêndido, pra mim, ali. Meu filme logo pulou décadas e décadas no tempo, parando em 2008, no hoje, no agora, nesse instante. E no facho de luz, que tanto odeio o nome e tanto admiro sua beleza, vi ali a possibilidade de mudar tudo. Se um filme de 1942 pode se transformar no filme da minha vida de 2008, minha vida de 2008 pode se transformar em qualquer coisa, ainda que não seja um filme. Ou talvez seja.

O facho de luz estava ali para me lembrar que apesar de todas as gotas de chuva que possam cair, pode existir sim um lugar no meio da rua, uma grande mancha seca e dourada no chão, brilhando, à parte de todas as saturações do resto, à parte de todas as gotas de chuva que caiam sobre nós. O grande buraco na nuvem estava ali para me lembrar que existe sim um local aproveitável sob a chuva.

Mas depois de tudo isso, acabei abandonando todas essas idéias, porque, afinal... Na verdade, toda gota de chuva é aproveitável. Tudo existe para nós, para o nosso melhor. O que varia, no fim da história, é o que fazemos com o que nos é dado. A chuva está lá. Amargure-se com ela, procure um buraco na nuvem, ou aproveite tudo e dance na chuva, por mais cliche que soe. Afinal, já sabem o que digo sobre cliches. Mas nem é sobre cliches que vim falar hoje. É sobre a chuva. E a falta de.

Nem é.

É sobre a vida.

E a falta de.

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